
Por Fé Juncal – Diretora da FAPESP
O envelhecimento da população é um fenômeno que exige reflexão sobre as condições necessárias para uma vida digna, além de um olhar atento sobre o impacto que o aumento do número de idosos tem nas sociedades contemporâneas. No caso da Alemanha, seu modelo de financiamento social aparenta ser saudável, mas não tenho acesso a um diagnóstico social detalhado sobre o envelhecimento naquele país. No entanto, sabemos que, durante o período pandêmico, a sociedade alemã enfrentou um brusco aumento no desemprego, o que, somado ao contínuo processo de envelhecimento, revelou fragilidades em sua estrutura social.
O mito da prosperidade do aposentado alemão entra em confronto com a realidade da pobreza crescente entre os idosos, desafiando a ideia de que a Alemanha seja o "melhor país do mundo" para acolher seus cidadãos mais velhos. Recentemente, li um estudo sobre o envelhecimento na União Europeia, e um dado relevante foi a mudança demográfica na Alemanha: em 2005, apenas 4,7% da população tinha mais de 60 anos, enquanto, nos últimos 15 anos, esse índice subiu para 15,7%. Esse aumento expressivo exige uma reavaliação e atualização das políticas públicas do país.
No Brasil, também enfrentamos esses desafios, mas com um enfoque diferenciado. Uma distinção importante é que, enquanto na Alemanha se fala em "asilos", no Brasil adotamos a terminologia "instituições de acolhimento", mais respeitosa e alinhada com a dignidade da pessoa idosa. Além disso, temos o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que, embora precise de maior efetividade na sua aplicação, é uma ferramenta essencial para garantir a proteção social dos idosos. Complementando, o Estatuto do Idoso, instituído pela Lei nº 10.741/2003, assegura direitos fundamentais aos idosos, promovendo a inclusão e o respeito à sua cidadania, o que representa um avanço importante na garantia de uma vida digna para essa faixa etária.
Entretanto, é importante destacar que o envelhecimento não pode ser entendido apenas como um processo físico do corpo. Ele é, acima de tudo, um reflexo da transformação da sociedade, incluindo mudanças comportamentais, socioambientais e econômicas. O envelhecimento da população não é apenas uma questão de cuidados médicos ou estruturas de acolhimento; é também um desafio para repensarmos nossa forma de viver, de nos relacionar com as pessoas idosas e de reconfigurar políticas públicas que atendam às suas reais necessidades. O envelhecimento deve ser visto como um processo integral, que envolve a valorização da experiência de vida, a construção de um ambiente mais inclusivo e o fortalecimento das redes sociais.
Se o conhecimento tem o poder de transformar, então o SUAS, aliado ao Estatuto do Idoso, precisa ser cada vez mais eficaz na inclusão dos cidadãos idosos, garantindo-lhes uma vida plena e digna. Esse é um debate crucial para o futuro das sociedades, tanto no Brasil quanto em outros países, e deve ser tratado com a seriedade e o comprometimento que ele exige.