Ao completar 20 anos, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), criado no primeiro mandato do presidente Lula, vem prestando uma importante contribuição ao SUS, consolidando-se como um patrimônio brasileiro. Mas, diante de mudanças sociodemográficas e do acúmulo do tempo, é hora de renová-lo e fortalecê-lo.

Este é o chamado para os próximos anos, segundo conclusões de audiência pública realizada na última semana na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados. Convocada pela deputada federal Juliana Cardoso (PT-SP), a audiência reuniu pesquisadores, representantes do governo e dos movimentos sociais para debater o futuro do Samu.

Um dos principais objetivos do encontro foi analisar as mudanças necessárias para melhor atender o crescente número de pessoas idosas no Brasil. Este foi o destaque da participação da conselheira nacional de saúde Walquíria Cristina Alves, que falou em nome do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Coordenadora-adjunta da Comissão Intersetorial de Atenção à Saúde nos Ciclos de Vida do CNS, Walquíria defendeu que o Samu precisa construir um modelo de atendimento em rede.

Segundo ela, falta consolidar um amplo compartilhamento de informações entre diferentes órgãos da saúde pública, nos três níveis de governo, e também entre outras esferas do poder público, como assistência social, para poder *garantir que os idosos recebam atendimento multidisciplinar e sejam encaminhados para diferentes serviços.

“O Samu, quando atender o idoso, tem que considerar a funcionalidade dele e dela. O que queremos é garantir um envelhecimento ativo e saudável, com garantia de direitos de cidadania para essa população”, disse Walquíria. “Hoje, a rede não trabalha em compartilhamento, e nós precisamos de um trabalho integrado, com troca de informações, para ajudar que as equipes de atendimento possam pensar em diferentes encaminhamentos para cada caso”.*

Na opinião da conselheira, que também integra o Conselho Estadual da Pessoa Idosa do Pará, esses encaminhamentos podem incluir desde programas de saúde propriamente ditos, até o retorno aos estudos ou alfabetização, práticas esportivas e tantos outros projetos terapêuticos que possam melhorar as condições de vida dos idosos.

Para tanto, será necessário construir uma plataforma que permita aos profissionais que trabalham no Samu acessar o histórico dos pacientes, indo além do episódio que gerou a chamada. “A gente precisa olhar a transição demográfica de uma nova forma, para redimensionar o Samu, resumiu a pesquisadora Marisa Malvestio, da Universidade de São Paulo (USP).

📊 Afinal, 70% dos idosos no Brasil são dependentes do SUS, conforme lembrou a médica geriatra Lígia Gualberto, coordenadora de Saúde da Pessoa Idosa na Atenção Básica, do Ministério da Saúde. São mais de 33 milhões de pessoas. E, para muitas delas, a porta de entrada no sistema é o Samu. “A gente precisa desenvolver novas estratégias, fortalecer a rede de cuidados, antes até que as pessoas precisem do Samu. E isso não envolve apenas a saúde. Por isso, precisamos de financiamento”.

Coordenador-geral de Urgência do Ministério da Saúde, o médico sanitarista Felipe Reque reconhece a necessidade de construir amplo serviço de atendimento em rede, de qualificar os profissionais que trabalham no Samu e também ampliar e renovar o serviço. Reque informou que o Ministério e o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) já estão investindo na formatação de um novo sistema digital para a rede de urgência e emergência.

O Samu cobre pouco mais de 86% das cidades brasileiras. Em algumas dessas áreas de cobertura, notadamente entre as cidades com menos de 10 mil habitantes, o serviço sequer está informatizado, lembrou Gisele Odwyer, pesquisadora da Fiocruz.

Entre outras medidas que estão sendo tomadas pelo Ministério, segundo Reque, já está em curso o fortalecimento de núcleos de educação para os trabalhadores e trabalhadoras do Samu. Ele anunciou também a aquisição de novos 1,8 mil veículos para ampliar e renovar a atual frota, com previsão de entrega para até o início do próximo ano. Atualmente, a frota é composta de 3,8 mil unidades, o que inclui as chamadas motolâncias e ambulanchas – motocicletas e barcos usados para facilitar o acesso em grandes centros urbanos ou regiões sem malha viária.

Entre outras questões abordadas durante a audiência, os participantes ressaltaram alguns desafios para ampliação e formação continuada das equipes. 85% dos atendimentos são feitos por equipes de dois profissionais, tendo à frente trabalhadores de enfermagem de nível médio, enquanto os demais 15% contam com médicos. Mesmo assim, segundo Marisa Malvestio, apenas 30% das ambulâncias destinadas a atendimento avançado contam com a presença de médicos. “Nossa capacidade de operação está abaixo. Quem trabalha, trabalha demais”, afirmou a pesquisadora.

https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/3141-samu-20-anos-desafios-para-melhor-atender-o-crescente-numero-de-pessoas-idosas-no-brasil