O envelhecimento da população brasileira já é uma realidade, como aponta a última pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar disso, o país não está se preparando para enfrentar as consequências desse fenômeno nas próximas décadas, afirmam especialistas.

Diante deste cenário, o médico gerontólogo Alexandre Kalache projeta que o Brasil deve pagar um preço muito alto, pois vai acumular pessoas doentes, carentes, com incapacidades e sem saber quem vai cuidar delas.

"Países desenvolvidos primeiro enriqueceram para poder envelhecer. As pessoas serão na velhice o produto de tudo que aconteceu na sua vida antes e nós estamos envelhecendo com pobreza e crescente desigualdade", afirma ele, ex-diretor do Programa Global de Envelhecimento e Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde).

🔷 O médico cita quatro pilares necessários para garantir um bom envelhecimento —saúde, conhecimento, capital social e o financeiro. Para ele, porém, faltam políticas públicas voltadas para o futuro nessas áreas no país hoje.

 📊 A nova pesquisa do IBGE, divulgada no final de julho, mostra que a proporção de pessoas abaixo de 30 anos recuou de 49,9% da população do país em 2012 para 43,9% em 2021. No período, o número de brasileiros nessa faixa etária baixou de 98,7 milhões para 93,4 milhões. Ou seja, uma queda de 5,4%.

Kalache cita ainda que, antes da pandemia, projeções indicavam que o Brasil deveria atingir o pico populacional em meados de 2040. Mas, em decorrência da crise sanitária, isso deve acontecer antes. Com isso, afirma que é necessário que o país já comece a pensar no futuro. E, uma das políticas necessárias é manter as pessoas no mercado de trabalho.

Pesquisador associado do FGV/Ibre e ex-presidente do IBGE, Roberto Olinto cita que o envelhecimento populacional não é uma questão restrita ao Brasil, e já atingiu países como França e Alemanha, por exemplo.

Dentro deste cenário, se faz necessário atenção para algumas questões visando um melhor futuro da população. Entre elas, a elaboração de uma política de saúde para essa população, que inclua desde um atendimento diferenciado até projetos de cidades inteligentes, uma vez que as pessoas estarão com a mobilidade reduzida.

Bibiana Graeff, jurista e professora no curso de gerontologia da EACH-USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), afirma que Brasil já foi referência em direitos para os idosos, principalmente após a Constituição de 1988 e o Estatuto do Idoso, de 2003. Depois disso, porém, o país estagnou no tema, aponta ela.

"São pessoas muitas vezes vistas como um peso para sociedade que são vistas como se não contribuíssem para a sociedade."

📑 Hoje, um projeto de lei prevê a elevação de 60 para 65 anos a idade de classificação como pessoa idosa. A proposta, em análise na Câmara dos Deputados, tem como autor o deputado Bibo Nunes (PL-RS) que justifica que, quando o Estatuto do Idoso foi sancionado, em 2003, a expectativa de vida era de 71 anos, que aumentou e chegou a 76 anos, em 2017.

Kalache discorda do projeto e diz que, num país com taxa de desigualdade social tão elevada quanto a do Brasil, rotular como idoso aquele que tem 65 anos significa retirar cinco anos de direitos.

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/08/brasil-nao-esta-preparado-para-o-envelhecimento-da-populacao.shtml#:~:text=A%20nova%20pesquisa%20do%20IBGE,queda%20de%205%2C4%25